Por Gabriel Canuto
Recentemente, ouvi numa reunião de briefing sobre a importância do cliente gostar de vestir sua própria marca, como uma roupa. Entendo a mensagem passada e tal fala foi bastante eficiente naquele momento, mas é necessário adaptar essa analogia para alinhá-la com a real função da(o) designer gráfico.
Completamente influenciado pelos princípios da Bauhaus, vejo mais sentido em ressaltar a importância da construção visual de uma marca como uma casa (ou qualquer outro espaço físico que tenha como objetivo o convívio e uma rotina específica). Pensa comigo, quando uma marca precisa de um redesign, por exemplo, é tão simples remodelar tudo como trocar uma roupa? Acredito que não.
Construir marcas com tijolos é sobre criar o conceito narrativo como as fundações, pilares e vigas de uma casa. Sobre um visual final com bons revestimentos e uma mão de obra especializada. Focando em identidades visuais profundas, separei alguns pontos para nos aprofundarmos:
Construir uma marca sólida vai muito mais além de criar uma logo. O processo de design começa com a definição de humor, referências e outros diferenciais da marca que devem ser traduzidos de maneira visual. Assim como cada casa pode ser planejada para atender às necessidades do dia a dia de seus moradores, com espaços planejados para conforto, funcionalidade e identidade própria. Muitas vezes, nosso trabalho é buscar entender além do que é falado para ter uma noção mais aprofundada do propósito geral, aquilo que ela procura entregar ao mundo, o alvo é entender essas camadas, o que torna a marca única no mercado.
Esse processo não é inteiramente intuitivo e envolve bastante estudo após reuniões de alinhamento. As cores, tipografias, grafismos de apoio e até o sistema de símbolos, por exemplo, devem refletir essa essência e personalidade de maneira estratégica para atrair e selecionar o público certo. Se uma casa não atende às necessidades dos moradores, ela se torna desorganizada e confusa, o mesmo acontece com uma marca sem um design bem pensado. A comunicação pode começar sem força e identidade, assim como uma casa sem pilares.
A consistência fortalece o reconhecimento da marca e transmite profissionalismo, garantindo que o público identifique o que se trata independente do canal. Aplicar o design de maneira padronizada em todos os pontos de contato, como site, redes sociais, embalagens e outros meios de comunicação não é apenas uma questão estética, mas uma estratégia essencial para fortalecer a percepção de marca e garantir que sua mensagem seja transmitida com clareza e impacto.
Mesmo que cada cômodo tenha sua própria funcionalidade, todos devem conversar entre si para manter uma harmonia geral. Se a sala tem um estilo moderno e clean, mas a cozinha segue um padrão maximalista e colorido, a sensação vai ser de desordem ou mau planejamento. O mesmo acontece com uma marca: se cada canal transmite uma identidade diferente, o público pode se sentir confuso e não criar uma conexão sólida com o que foi planejado.
Imagine que você está andando por uma rua e se depara com uma casa. Antes mesmo de entrar, a fachada já transmite uma mensagem: organização, modernidade, aconchego ou até mesmo descuido. A assinatura (logo) de uma marca funciona de maneira parecida, é o primeiro contato visual que o público tem com a personalidade de uma empresa. É um resumo gráfico da essência da marca que, além de estético, precisa ser funcional e duradouro. O design bem pensado faz com que o consumidor posicione a “fachada” da marca no exato local em que ela deveria estar para conversar com seu público.
O manual da marca é essencial para garantir que a identidade visual seja aplicada corretamente, preservando a coerência ao longo do tempo. Nele vão estar diretrizes de uso de todos os elementos que compõem a marca, evitando distorções que possam enfraquecer a homogeneidade gráfica da marca. Assim como um manual de instruções de um eletrodoméstico explica como utilizá-lo corretamente para evitar mau funcionamento, o manual da marca orienta outros designers, equipes de marketing e parceiros que terão acesso aos arquivos sensíveis da empresa sobre a melhor forma de aplicar a identidade visual.
Quando uma equipe recebe uma marca para reproduzir a aplicação sem acesso ao manual, o risco de usá-la de maneira errada é alto. Alteração de cores, proporções de símbolos sem harmonia e tipografia errada são exemplos de equívocos recorrentes. Por isso, fazer a entrega final só com arquivos soltos, sem o manual, é como entregar um móvel desmontado sem instruções: quem for montar pode comprometer o resultado desejado.